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(Foto: Cézar Magalhães) |
Toda a poluição
vivida diariamente pelos moradores do polo industrial de Barcarena,
nordeste do Estado, relatada em matéria publicada com destaque no DIÁRIO
na edição de domingo passado, 7, pode ser fonte geradora de problemas
de saúde a longo ou até mesmo curto prazo, segundo médicos especialistas.
A qualidade do ar inalado por quem mora no município - e que segundo
levantamento do Instituto Evandro Chagas, foi considerado inapropriado
40 vezes acima do limite - pode, sim, justificar as denúncias
relacionadas, por exemplo, a doenças do trato respiratório e da pele relatadas pelos entrevistados.
Dependendo do tipo de substâncias no ar, do tamanho das partículas
dispersadas, o pulmão com certeza é logo afetado”, explica a
pneumologista Fátima Houat, que responde pelo Centro de Referência
Especializada em Tratamento de Fumantes da Secretaria de Estado de Saúde
Pública (Sespa). A afirmação remete ao caso do neto de apenas um ano de
Moisés Santa Rosa. Ele, que é morador da comunidade Dom Manoel,
imprensada entre dois pátios industriais - um de produção de combustível
sólido e outro, ainda sem funcionar, de trituração de manganês -,
precisou ir a Belém para tratar uma formação identificada num dos
pulmões, conforme contamos na matéria do domingo passado. “A fumaça de
queimadas, a fuligem já causam mal ao trato respiratório. Como não se
sabe o quê exatamente essas pessoas estão respirando, posso fazer uma
comparação rápida com o cigarro. A gente sabe que nele existem 20
substâncias tóxicas conhecidas, como o chumbinho e a benzina, e outras
5.700 desconhecidas, e os danos possíveis são o enfisema pulmonar, a
insuficiência respiratória e o câncer, que pode ser de pulmão e de
laringe”, detalha.
A médica admite que é difícil dizer o que
faz mais mal: se o alto nível de poluentes no ar inalado ou se o tempo
de exposição ao ar, independente de sua má qualidade. “Acho que os dois
fazem muito mal, e um mal que é irreversível, que se não levar a uma
doença letal, provavelmen
ROTA DE FUGA
O oncologista Celso Fukuda explica que o
tempo de exposição pode, sim, determinar o tipo de dano sofrido pelo
sistema imunológico. “Pele e pulmão são definitivamente os mais
lesados”, confirma. “Mas dependendo do tipo de intoxicação, existe uma
série de doenças que podem aparecer e afetar também o trato
gastrointestinal, por exemplo. No caso da fábrica em Barcarena que está
parada, mas que se propõe a trabalhar com trituração de manganês, que
libera o arsênio, podem ocorrer desde uma série de doenças
cardiovasculares a até mesmo ao aborto espontâneo ou nascimento de bebês
com baixo peso, no caso das mulheres”, confirma o médico.
“A aspiração de ar poluído é uma das piores e
mais danosas formas de intoxicação. Com certeza, se esses moradores
fizerem exames para verificar a condição pulmonar e perda de tecido,
haverá alterações. E não há como evitar a inalação do ar poluído se o
ambiente estiver poluído. Para escapar, só deixando o local mesmo”,
alerta.
te leva a um mal crônico”, informa.
“Há algum tempo, pessoas de uma mesma
comunidade onde o uso do fogo a lenha era comum começaram a apresentar
tosses, falta de ar e até mesmo tumores nos pulmões. No fim das contas,
descobriram que aquela queima de madeira os deixou doentes. Fica difícil
então prever o que não pode acontecer com quem inala o que sai dos
chaminés de uma indústria”, avalia.
Por Francisco Portela e Edil Aranha
Fonte: Diário do Pará
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