Votação de veto acontecerá nesta terça-feira, no Congresso Nacional
Governo de Dilma Rousseff quer impedir que legislativo crie mais despesas |
O veto ao projeto que cria regras para a criação de novos municípios será analisado pelos parlamentares amanhã (18), em sessão às 19h, no plenário da Câmara dos Deputados, junto a outros três vetos presidenciais. Deputados e senadores deverão decidir se mantêm a posição manifestada durante as votações na Câmara e no Senado ou se apoiam, em votação aberta, a decisão do governo. O voto aberto na apreciação dos vetos foi aprovado no final de 2013.
Para alguns parlamentares, o voto
secreto no caso de vetos é uma forma de os parlamentares se protegerem
de possíveis pressões do governo. No entanto, o próprio autor do texto,
senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR), discorda. Segundo ele, com a
votação aberta, é mais difícil um parlamentar mudar o posicionamento
assumido durante a tramitação na Câmara e no Senado. “Eu acho que a
presidente exerceu o direito constitucional dela de vetar. O que o
Executivo tem que deixar é que o Congresso exerça a sua tarefa
constitucional de derrubar ou manter o veto. Assim a população vai poder
acompanhar o real posicionamento do parlamentar que ele elegeu”,
assinala o senador.
O Projeto de Lei do Senado (PLS) 98/2002
foi aprovado em outubro de 2013, mas foi vetado integralmente pela
presidente Dilma Rousseff. Segundo o governo, o projeto contraria o
interesse público por causa do aumento de despesas sem a criação de
receitas equivalentes. Para o Executivo, haverá impacto negativo na
sustentabilidade fiscal e na estabilidade macroeconômica.
Entretanto, o deputado paraense Zé
Geraldo (PT) discorda dessa tese. Para ele, não haverá aumento de
despesas. “A presidenta acabou vetando por causa da nota que o
Ministério da Fazenda fez sobre os custos, mas essa Lei foi construída
junto com a Própria Casa Civil e o Ministério das Cidades. Ela é uma Lei
que evita uma farra na criação de municípios. Ao contrário, é uma Lei
que trava. Para se ter uma ideia, na Amazônia, só se tornam municípios
localidades acima de seis mil habitantes. Devido a isso, nós temos uma
tendência a derrubar o veto. Eu venho liderando esse movimento
juntamente com parlamentares do Nordeste e da Amazônia”, explicou o
petista, que se mostrou irredutível na sua defesa em derrubada do veto,
mesmo que a presidente oriente o seu partido pela posição contrária.
“Não tenho como não votar contra esse
veto. Não há outra alternativa, acabei ficando em uma situação
complicada. E o governo sabe disso, tanto que fui convidado a participar
de uma reunião na Casa Civil, nessa terça-feira, às 9h. Minha intenção é
que o governo libere a bancada do PT para a votação. Mas o governo quer
propor um projeto de Lei, em caráter de urgência, mas mantendo as
regras pra região Norte e apertando um pouco mais o Nordeste, Sul e
Sudeste. Mesmo assim, nós perderíamos aí uns dois ou três meses, pois
ainda teria que passar pelo Senado e pela Câmara, o que ficaria pronto
em Abril. Apesar da garantia de votação até o fim de abril, ainda há um
risco, porque matéria legislativa você não sabe como entra e como sai”,
disse.
“Mesmo o governo negociando e mandando
outro projeto de Lei, eu votarei contra o veto. Até como forma de
protesto contra alguns assessores e tecnocratas aqui de Brasília que não
entendem a realidade do Norte do País. É impossível que você tenha dois
grandes Estados, como o Pará e o Amazonas, que sozinhos representam
mais de um terço do território nacional, e não tenha a compreensão que é
preciso ordenar melhor a criação de novos municípios, sob o argumento
de que a criação de outros municípios irá influenciar os gastos
públicos. Quer dizer, nós temos um País que deixa de arrecadar bilhões
em sonegação e a gente fica com medo de que criar alguns municípios vai
impactar os gastos públicos… esse tipo de coisa que só dá na cabeça de
técnicos que só tem uma visão econômica do processo e não uma visão
social”, completou.
Derrubada do veto, deve colocar em análise 51 propostas na Alepa
Se confirmar a derrubada do veto
presidencial do projeto que devolve aos Estados o poder de criar novos
municípios, as assembleias legislativas do País vão se debruçar na
análise de cerca de 400 propostas de emancipação. Só no Pará, tramitam
atualmente na Alepa 51 propostas de criação de cidades. No entanto,
pelas contas do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea),
apenas 32 desses projetos estão de acordo com a nova regulamentação.
Pelos cálculos instituídos na
legislação, a população mínima dos distritos e vilas do Pará teria que
ser de 5 mil habitantes para a emancipação ser possível. Uma exigência,
que se já existisse anteriormente, inviabilizaria a existência do
município de Bannach, por exemplo. A situação se repete em, pelo menos,
cinco das localidades que pleiteiam o status de município, segundo dados
do Censo Demográfico 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE).
Apesar de a criação de novos municípios
ficar a cargo dos Estados, as novas exigências vão dificultar bastante a
efetivação dos projetos paraenses de emancipação. Além do mínimo
habitantes, o texto ainda prevê a execução de um estudo para comprovar
que o município tem como ser mantido, com parâmetros de arrecadação
própria e estrutura. Dentro do estudo, ainda está prevista uma análise
socioambiental para diagnosticar a situação do abastecimento de água,
saneamento básico, entre outros aspectos. Após a comprovação pelos
deputados estaduais desses requesitos, as propostas de desmembramento
serão levadas a consulta plebiscitária.
CONGRESSO ANALISA VETOS DE DILMA NA PRIMEIRA SESSÃO DO ANO
Na primeira sessão do Congresso Nacional
de 2014, que vai analisar vetos da presidenta Dilma Rousseff a projetos
aprovados por deputados e senadores, marcada para terça-feira (18), o
governo quer continuar impedindo que o Legislativo crie mais despesas
para a União. Em ano eleitoral, quando a pressão de governadores e
prefeitos é grande, o próximo desafio é manter o veto total à proposta
aprovada no ano passado que estabelece regras para a criação de novos
municípios.
O texto, que tramitou mais de dez anos
no Congresso, define critérios para a criação, incorporação, fusão e o
desmembramento de cidades brasileiras, e o governo teme que quase 400
cidades sejam criadas a partir das novas regras. “A medida permitirá a
expansão expressiva do número de municípios no país, resultando em
aumento de despesas com a manutenção de sua estrutura administrativa e
representativa”, diz trecho da justificativa do veto da presidenta ao
projeto.
Autor da proposta, o senador Mozarildo
Cavalcante (PTB-RR) garante que, pelos estudos feitos, o número de
municípios criados não passará de 180 e as despesas não serão elevadas.
Segundo ele, boa parte das despesas será coberta pelo Fundo de
Participação dos Municípios (FPM) que terá que ser apenas
redistribuído.
“Esse projeto não autoriza a criação de
municípios , ao contrário, ele regulamenta a criação, o que nunca houve
no Brasil. O que estamos criando é uma regra que envolve coisas muito
rígidas”, disse. Cavalcanti destacou que o projeto reúne exigências
para qualquer mudança territorial, como número mínimo de habitantes (5
mil), estudo de viabilidade econômica e plebiscito na área envolvida.
Como o projeto foi aprovado com o apoio
de 312 deputados e 53 senadores, para evitar grandes desgastes
representantes do governo não descartam a possibilidade de apresentar
uma proposta alternativa antes da votação, mas ainda não foi negociado
qualquer texto em torno do assunto.
Além do veto integral ao projeto de
criação de municípios, o Planalto também está negociando a manutenção de
mais dois vetos totais e um parcial. A intenção do governo é derrubar
definitivamente a proposta (105/2012) que regula o exercício da
atividade de condução de veículos de emergência, como ambulâncias, e o
projeto (PLC 31/2012) que obriga a implantação de faixas, passarelas ou
passagens subterrâneas para a travessia de pedestres nas proximidades de
estabelecimentos de ensino. A justificativa para o veto total foi a
possibilidade de a medida aumentar as despesas de governos locais e não
considerar o interesse da população.
A única restrição parcial do Planalto, e
que terá de ser analisada na sessão dessa terça-feira, foi feita ao
projeto (PLC 01/2013) que define e qualifica as instituições
comunitárias de Educação Superior (Ices). O governo diz que, em partes
do texto, os parlamentares definiram critérios que desestimulam a
criação de outras instituições e podem prejudicar a rede pública federal
de educação superior.
Desde que o Congresso aprovou a emenda
constitucional que estabelece o fim do voto secreto nas votações de
vetos presidenciais e em processos de cassação de parlamentares no final
do ano passado, esta é a segunda vez que os parlamentares analisam
vetos por voto aberto.
Postado por Francisco Vieira Portela e Edil Aranha
Fonte: Portal ORM e Agência Brasil
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