A temperatura no interior do prédio chegou a mil graus Celsius
O incêndio que se alastrou domingo no prédio do INSS em Belém poderia ter sido menor ou de consequências físicas menos graves se um procedimento simples e básico tivesse sido adotado. Se as portas “corta-fogo” estivessem todas fechadas, o fogo e a fumaça não se espalhariam com a facilidade com que tomaram conta de quatro andares do edifício Costa e Silva. “Teria sido mais fácil o controle das chamas”, diz o tenente-coronel Mário Moraes, comandante da operação do Corpo de Bombeiros que debelou o incêndio.
A porta corta-fogo é feita de material que impede ou retarda a propagação do fogo e do calor de um ambiente a outro. Ela oferece duas condições de segurança. A primeira é a de conter e impedir a propagação do fogo e a segunda, a de oferecer um caminho de fuga para as pessoas e um fácil acesso aos bombeiros. “Ela deve estar fechada para que seja útil”, disse Moraes.
Foi o que não ocorreu no domingo. As portas estavam todas abertas. “Isso dificultou o trabalho das equipes”, afirmou o tenente-coronel. Ontem pela manhã, bombeiros faziam o chamado rescaldo, depois de um incêndio que iniciou às 15h42 e se estendeu madrugada adentro, sendo preciso o uso de 90 bombeiros para debelar as chamas. Muitos estavam de folga e foram chamados às pressas. Alguns vieram por conta própria tão logo ficaram sabendo do acidente pelos plantões televisivos. Exaustos, foram substituídos de manhã por outras equipes.
O tenente Anderson Campos, por exemplo, atendia uma ocorrência de vazamento de gás em uma casa em Ananindeua, quando foi chamado para se juntar à equipe no bairro de Nazaré. “Foi uma loucura. A temperatura lá dentro deveria estar uns mil graus celsius”, diz ele, lembrando que estruturas metálicas derreteram com o aquecimento.
Pela manhã, o aspirante a oficial José Neto foi um dos que subiram ao edifício para constatar o estrago feito pelas chamas. Segundo ele, o quinto andar ainda teve um pouco de material queimado, mas o foco do incêndio foi mesmo até o quarto andar, onde funcionava, entre outras coisas, a central telefônica do prédio.
“Ainda havia um forte cheiro de queimado no quinto andar”, disse ele. Todos os materiais de fácil combustão, como botijões de gás foram retirados do local.
O EDIFÍCIO
O edifício Costa e Silva é uma construção típica da década de 1970. Passava por uma reforma de fachada e de adaptação a deficientes físicos, num valor de cerca de R$ 890 mil. A obra deveria ser entregue em setembro. Além disso, o prédio fugia das características que deveriam balizar as construções em uma capital como Belém e era praticamente todo envidraçado, com uma propagação de calor maior. Foram os vidros que provocaram as duas explosões no domingo, quando se achava que o fogo já estaria controlado. De início, as explosões foram atribuídas a botijões de gás.
A perícia do Corpo de Bombeiros deverá emitir um laudo apontando as prováveis causas do incêndio em 15 dias.
>> Incêndio não prejudicará o atendimento ao público
Às 4h da segunda-feira, o superintendente regional Norte e Centro-Oeste do INSS chegou ao local do incêndio. Vindo de Brasília, Mano Barreto disse que os serviços não serão drasticamente afetados. “Os processos são feitos de forma virtual. Perdemos os processos físicos, mas as informações dos clientes estão todas preservadas”, garantiu. As informações são arquivadas num sistema Dataprev, concentrado em São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro.
A partir de hoje, os clientes serão direcionados a outras agências. “O pagamento não será atrasado, permanecendo nas datas originais”, disse o superintendente. Segundo ele, ainda é cedo para avaliar todo o prejuízo. “Visualmente a perda parece muito grande, mas ainda precisamos ver o que foi perdido em termos de equipamento”.
No prédio do INSS funcionava a agência Mosqueiro, além da área de logística, recursos humanos, almoxarifado e um posto da Polícia Federal. Cerca de 200 funcionários trabalham no edifício, que realizava uma média de 50 a 60 atendimentos por dia. Muitos servidores foram ver de perto o estrago feito pelas chamas. Alguns contabilizavam perdas. Um funcionário havia deixado dinheiro guardado. Outro, uma máquina fotográfica.
O telefone 135 foi disponibilizado pela agência para que os clientes possam agendar atendimento em um local próximo à própria casa. “Nós vamos reunir para ver quais são as providências imediatas que devem ser tomadas em relação aos servidores e aos clientes. Vamos restabelecer as bases de logística e de recursos humanos para retomar o trabalho”, disse a gerente-executiva Damiana Cabral.
>> Bombeiros detectam novo foco no 1° andar
Após as chamas que tomaram conta de cinco dos dezessete andares do edifício-sede do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), no bairro Nazaré, em Belém, terem sido aparentemente controladas pelo Corpo de Bombeiros no início da noite de domingo, um novo foco de incêndio foi detectado no primeiro andar do prédio por volta das 23h.
O edifício fica no cruzamento das avenidas Nazaré com Doutor Moraes. O incêndio começou por volta das 15h de domingo no andar térreo e se espalhou por outros cinco andares. O fogo foi aparentemente controlado por volta das 19h, mas as equipes do Corpo de Bombeiros não deixaram o local.
Às 23h, novas chamas consumiram a parte dos fundos do primeiro andar do prédio. Havia o risco de as chamas atingirem uma casa que pertence à Arquidiocese de Belém, onde residem o arcebispo de Belém, Dom Alberto Taveira, e o arcebispo emérito da capital, Dom Vicente Zico. Ambos estão viajando.
Em uma residência anexa à casa dos arcebispos moram três freiras da ordem das Preciosinas. A irmã Maria do Socorro afirma que se preparava para dormir, às 23h, quando ouviu uma explosão. “Meu coração dizia para eu não ficar nessa casa. Há muita fumaça lá dentro”, disse a freira.
As paredes laterais da casa do arcebispo foram resfriadas. Homens do Corpo de Bombeiros utilizaram o telhado da residência da Arquidiocese para controlar o fogo no prédio do INSS. Quatro viaturas, incluindo uma equipada com escada magirus, foram utilizadas para debelar as chamas. Já à meia-noite, o fogo havia sido novamente controlado. Segundo o sargento bombeiro Ratis, o novo foco foi no almoxarifado do prédio. Pela manhã, os bombeiros identificaram que havia um botijão de gás no almoxarifado, que explodiu com o calor. Outros materiais inflamáveis armazenados colaboraram para o reinício do fogo. (Diário do Pará)
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