Confira a entrevista do senador
Jader Barbalho também na edição deste domingo (9) do Diário do Pará
(Foto: Marcelo Lélis/Diário do Pará)
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O PMDB vai ter candidato próprio ao governo
do Estado e, seguindo a estratégia nacional de buscar a reeleição da
presidente Dilma Rousseff, marchará com o PT nas eleições deste ano. O
cenário que já se desenhava desde o ano passado foi oficialmente
confirmado pelo presidente estadual do PMDB no Pará, o senador Jader
Barbalho.
Em entrevista ao DIÁRIO, Jader comentou a
crise do funcionalismo público, categoria a quem atribuiu grande
importância para o sucesso de uma administração, e respondeu às
insinuações feitas pelos atuais gestores de que os problemas atuais
teriam como raiz problemas de gestão durante seus dois mandatos como
governador do Pará, nos anos 1980 e 1990. “Seria leviano atribuir o
fracasso de um governo à administração anterior, há mais de 20 anos.
Nesse ritmo, vão acabar culpando Lauro Sodré”, ironizou.
Na entrevista às repórteres Rita Soares e
Carolina Menezes, o senador do PMDB falou também do rompimento com os
tucanos no Pará, dos projetos que tem defendido no Senado e de
estratégia eleitoral. Confira na íntegra:
P: Existem críticas à sua atuação no
Senado, colocando que o senhor só teria ido à tribuna duas vezes desde
que foi empossado e que não ajudaria o Pará como deveria. Como responde a
isso?
R: Nunca deixei de ajudar o meu estado quando fui
solicitado em nenhum dos mandatos que exerci. A avaliação do parlamentar
moderno não pode ser medida na quantidade de vezes que vai à tribuna.
Pode ir 300 vezes à tribuna e dizer 300 bobagens. Tancredo Neves, um dos
maiores parlamentares que esse país já teve, ia uma vez ao ano à
tribuna para analisar a situação nacional, mobilizando a casa e a
imprensa nacional. Nesse caso o que interessa é a qualidade, não a
quantidade. O que tenho feito é utilizar de um instrumento fundamental
do Legislativo em defesa do Pará: a fiscalização dos interesses do meu
estado. Quem reacendeu o debate do Pedral do Lourenço fui eu, a partir
de um pedido de informações à Ministra do Planejamento, quando
descobrimos que o projeto estava numa Comissão de Estudos. A partir daí
passei a questionar o processo através de pedidos de informação da mesa
do Senado, que obriga a resposta do gestor, instrumento que muitos
parlamentares desconhecem. Caso não haja essa resposta, implica em crime
de responsabilidade. O mesmo fiz com a ferrovia Norte-Sul, que não
atravessaria Paragominas a Vila do Conde; do ramal do Porto do Espadarte
e muitos outros. São questões vitais para o desenvolvimento do nosso
Estado, isso sem falar da quantidade de emendas que alocaram recursos
junto a ministérios a vários municípios do Estado. Na tribuna, trato de
questões sérias, e não de bobagens.
P: Estamos vendo grande mobilização
de servidores públicos contra a política salarial do atual governo, que
com dois decretos cortou gratificações e adicionais da categoria. Como o
senhor avalia essa movimentação?
R: Lamentavelmente existe
uma postura preconceituosa e equivocada do governo em relação ao
servidor público, que é peça fundamental no Estado. Como funciona a
educação, a saúde e a segurança sem o servidor público? A peça primeira
de qualquer engrenagem da máquina pública é o funcionário público, que
deve ser capacitado e preparado para atuar na sua área específica. Mas
para isso é preciso diálogo. No meu segundo mandato não enfrentei
nenhuma greve do funcionalismo público, sempre repondo a inflação e
concedendo uma série de benefícios, como o Regime Jurídico Único e o
Estatuto do Magistério. Nada disso me impediu de fazer um grande
programa de obras no Estado, que marcaram época e que duram até hoje, 22
anos depois que saí do governo.
P: Muitos acham que investir em servidor público é jogar dinheiro pelo ralo...
R: Aí é que está o
equívoco. Jogar dinheiro pelo ralo é manter uma estrutura no Estado com
mais de 90 órgãos na administração, sendo que alguns deles nem sabemos
que existem e para que servem, a não ser para abrigar cargos
comissionados e assessorias. Isso sim é jogar dinheiro fora. Criaram uma
Secretaria de Municípios Verdes e fico a me perguntar: será que as
tarefas dessa secretaria não poderiam ser desempenhadas pela Secretaria
de Estado de Meio Ambiente? Porque manter uma Secretaria de Articulação
Municipal? Esse trabalho não poderia ser feito pela Secretaria de
Planejamento e pela Casa Civil? O Pará tem uma Companhia de Portos e
Hidrovias, tendo uma Secretaria de Transportes... É muito fácil colocar a
responsabilidade em cima do funcionalismo. No meu último governo
criamos um Conselho de Política Salarial com assento de representantes
do funcionalismo. Eu mesmo recebi inúmeras vezes a categoria. Cheguei a
ceder uma sala na Secretaria da Fazenda onde era disponibilizado aos
servidores todos os números e contas do Estado para que pudessem acessar
a todos os recursos que o Estado possuía e onde estava sendo aplicado. O
que existe hoje é uma grande falta de respeito ao funcionalismo público
em razão e uma postura preconceituosa. Sem funcionalismo respeitado,
estimulado e bem remunerado, o resultado não será nada bom para
sociedade e para o Estado.
P: A oposição ao senhor afirma que
na sua administração o gasto com pessoal era descontrolado, sem a
possibilidade de realização de outros investimentos e obras...
R: É uma leviandade alguém
tentar justificar seu fracasso administrativo culpando o governo que o
antecedeu. É lamentável o governador Jatene justificar a incompetência
do seu governo, o caos administrativo que afeta as áreas de educação,
saúde e segurança em cima de administrações de mais de 20 anos atrás.
Chega a ser patético e grotesco subestimar a memória e a análise dos
paraenses. Daqui a pouco o governador vai justificar sua incompetência
em cima dos governos de Lauro Sodré, do Magalhães Barata e do Zacharias
de Assumpção... O que o governador Jatene tem que explicar é o caos na
sua administração. Eu só pude assinar o contrato para as obras de
Macrodrenagem da Bacia do Una com o BID porque as contas do Estado
estavam todas em ordem e regulares. Caso contrário não seria possível.
Saí do governo dando a contrapartida do Estado para a obra e deixando no
Banco do Brasil mais de R$ 200 milhões para investimento.
P: E os investimentos em obras?
R: Poderia ficar aqui horas
listando o meu legado administrativo ao Pará, mas cito algumas como a
viabilização da estação de tratamento de água da capital e toda a sua
rede de distribuição. Quando eu assumi só existia energia elétrica em
dois municípios do Estado: Belém e Barcarena por conta da Albrás. O
resto do Pará recebia energia das estações de diesel, que foram
substituídas através da chegada do Linhão de Tucuruí por quase todo o
Estado, além de dobrar a capacidade da hidrelétrica de Curuá-Una, no
maior projeto de eletrificação já realizado no Estado. Eu levei energia
de Belém até Conceição do Araguaia. Construí as rodovias mais
importantes desse estado com recursos do tesouro estadual, como a PA-150
e a PA-141, além de ter estreitado a ligação da PA-254 na margem
esquerda do Amazonas, encurtando uma viagem de dez para três horas.
Também distribuí mais de 50 mil títulos de terra para agricultores e um
sem número de desapropriações em áreas da região metropolitana e do
interior do Estado. Sem falar na construção do Hospital das Clínicas,
Centur, o primeiro centro de convenções do Estado; o Hemopa, que era
considerado àquela altura o mais moderno hemocentro da América do Sul.
No meu governo a Santa Casa foi toda reformada, integralmente, assim
como o Hospital Ophir Loyola, sem falar na construção de vários
hospitais em diversas regiões do Estado. No meu governo realizei o maior
projeto de interiorização do ensino universitário, com a UFPA,
implantando diversos campi pelo interior como em Castanhal e Altamira.
Foi o meu governo que dobrou o número de policiais militares na
corporação e construiu as primeiras seccionais de polícia como a de São
Brás, que existe até hoje. Isso para citar alguns exemplos aqui, de
improviso. Falar que não realizei obras é brincar com a memória do povo
do Pará. A atual gestão inclusive arrancou a placa com meu nome que
estava no Palácio Lauro Sodré, que eu entreguei completamente reformado
no último dia do meu governo. Esta gente pensa que pode apagar a
história.
P: Seus opositores também dizem que sua gestão foi marcada por atrasos nos salários do funcionalismo...
R: Mais uma mentira. Eu
entreguei o Estado ao vice-governador Carlos Santos com o funcionalismo
em dia, com a folha de pagamento do mês seguinte depositada. Entreguei o
governo de forma correta, entregando obras e com o funcionalismo
satisfeito. A partir daí, o Carlos Santos refez a equipe de governo,
trocando os secretários de finanças, de planejamento, de administração,
de educação. Foi a administração de Carlos Santos que passou o governo
para o então governador Almir Gabriel em janeiro de 2005, e não eu, como
mentirosamente andam publicando. Não me interessa o julgamento leviano
dos meus adversários e dos meus possíveis inimigos. O que me interessa,
como homem público há 47 anos, é o julgamento do povo do Pará. Fiz o
sucessor no meu primeiro governo e entreguei o meu segundo governo todo
organizado e com um volume de obras fantástico, sendo eleito senador em
seguida. Desafio que qualquer outro governo tenha realizado tantas obras
de infraestrutura como o meu. O governador que me antecedeu no meu
segundo mandato resolveu dar um reajuste de 153% com vigência a partir
de março do primeiro ano do meu mandato. Como resolver esse problema?
Muitos apostaram que eu revogaria o decreto do meu antecessor e dei um
aumento de mais de 150%. Como governador eu sempre enfrentei os
problemas do Estado e não culpei ninguém. E isso sem apoio do governo
federal. Teve governo que vendeu a Celpa por US$ 450 milhões e que até
hoje não sabemos onde foi aplicado. O atual governador, que era
secretário do governo que vendeu a empresa, até os dias atuais não
explicou onde foi parar esse dinheiro. Fica como ladrão de feira que
bate a carteira e a bolsa e sai gritando “Pega Ladrão!” , quando o
ladrão é ele mesmo...
P: As mesmas pessoas que hoje lhe
criticam já foram seus aliados no passado. O atual governador foi
inclusive um de seus assessores mais próximos...
R: A primeira função
pública do Simão Jatene quem deu fui eu: foi meu secretário de
Planejamento. Em seguida foi o secretário Nacional de Cadastro do
Ministério da Reforma Agrária quando eu ocupava a pasta. Depois, no
Ministério da Previdência Social, foi meu secretário. Mais tarde foi
indicado por mim para ser secretário da Reforma Agrária. Ao voltar para
cá, Jatene foi novamente meu assessor. Ele me deve pelo menos uns quatro
cargos públicos. Na área eleitoral a mesma coisa... Me recordo de
quantas vezes ele visitou meu sítio na Augusto Montenegro para implorar
meu apoio contra a candidata Maria do Carmo. Não me arrependo de nada,
pois as circunstâncias políticas naquele momento me levaram a apoiá-lo,
levando à sua vitória de maneira apertada. Na última eleição ele também
me apelou pelo apoio no segundo turno eleitoral, me visitando várias
vezes no meu flat na Batista Campos.
P: Porque houve o rompimento político entre o senhor e o governador?
R: Até hoje não entendi. A
bancada do PMDB na Assembleia Legislativa sempre ajudou o governo em
todas as solicitações, colaborando com a atual gestão. Eu li que, quando
o governador estava no Japão, que teria recebido informação que o PMDB
iria votar contra um empréstimo, mas o partido votou favoravelmente.
Creio que isso tudo foi fruto de uma ciumeira, porque o nome do Helder
[Barbalho] começou a ser cogitado como eventual candidato ao governo.
Isso sem qualquer aval de minha parte, diga-se de passagem. Foram dadas
umas secretarias para o PMDB que eu não sabia sequer o endereço, como a
Secretaria de Pesca. Nunca chamei um secretário de Estado ou dirigente
de órgão dessa gestão para debater questões de natureza administrativa
ou fazer qualquer tipo de pedido e tampouco fui procurado por alguém com
interesse no Estado. Essa era nossa influência do governo que aí está.
P: Na leitura da sua mensagem no início do ano legislativo, o governador Jatene classificou seus opositores de oportunistas...
R: Bom, então o governador
terá que chamar todo o povo do Pará de oportunista. Na última pesquisa
do Ibope feita pela Confederação Nacional da Indústria, o nosso chefe do
executivo ficou entre os piores governadores do país. Alcançou o posto
de quinto pior governante do Brasil. Quem disse isso não fui eu ou o
PMDB ou o funcionalismo público, mas o povo do Pará, que na visão do
governador deve ser o oportunista. Foi esse povo que classificou essa
gestão tucana de inoperante, de incompetente, que privatizou a saúde
pública no Estado e que tornou a segurança pública esse desastre que é
hoje: Belém é considerada uma das cidades mais violentas do mundo.
Oportunistas são os que constatam e criticam essa realidade? Isso é
subestimar a capacidade de avaliação da população paraense. No quarto
ano de mandato, vemos pela TV, jornais e blogs o governador batendo boca
com estudantes de Santarém que ousaram questionar a reforma de fachada
de uma escola pública. O governador culpou estudantes pelo estado de
abandono da escola. Aí em seguida vemos um empreiteiro mandar retirar a
grama já plantada numa escola por falta de pagamento. Hoje a maior parte
dos pequenos empreiteiros do Estado estão sem receber desde o ano
passado. Muitos faliram. É esse governo fracassado que chama de
oportunistas os que constatam essa realidade.
P: O candidato do PMDB ao governo do Pará será mesmo Helder Barbalho?
R: O Helder é o nome
pré-lançado. Candidatura mesmo apenas após a convenção do partido. Nós
temos um nome que está sendo instado e lembrado pelos companheiros e por
muitas pessoas em vários cantos desse Estado. E estaremos junto com o
PT na próxima eleição. É isso que está acordado até o momento, com a
vaga do senado destinada ao partido da presidente Dilma.
P: Como o senhor vê a insatisfação
do PMDB na Câmara Federal e em muitos setores do partido acerca do
tamanho da legenda dentro do Governo Dilma? Ela pode ter reflexos aqui
no Pará?
R: É muito natural que os
partidos políticos busquem seu espaço político, um espaço do seu
tamanho. O PMDB é um grande partido por possuir a maior bancada no
Senado, a segunda maior bancada na Câmara, por presidir essas duas casas
e ter um número considerável de governadores... Acho farisaica essa
posição de que os partidos ajudam os governos a governar mas não devem
reivindicar seu espaço. Nem na política do Vaticano isso existe. Então
esse pleito é perfeitamente normal e caberá à presidente Dilma
estabelecer o melhor diálogo possível para garantir a sua reeleição
acomodando o PMDB e os demais partidos da sua base.
P: Parece que está havendo uma tentativa dos tucanos em dividir o palanque da candidata Dilma Rousseff no Pará...
R: Olha, seria uma
indelicadeza da minha parte discutir a estratégia dos outros partidos.
Se o atual vice-governador, a bordo do imenso prestígio
político-eleitoral que possui, conseguir o apoio até mesmo do Obama [o
presidente dos EUA, Barack Obama] para vir aqui, será mérito dele. Tenho
obrigação é de discutir a estratégica do meu grupo político. Quem sabe
também seja possível o Putin [presidente da Rússia, Vladmir Putin], que
promove as Olimpíadas de Inverno na Rússia, também dar um pulo amigo
aqui para apoiar a candidatura do nosso vice-governador. Só acho
complicado nossos adversários tentarem buscar apoio da presidente Dilma.
Ao mesmo tempo não se sabe se o atual governador apoiará ou não o
candidato Aécio Neves. Por outro lado, pega um quadro do PSDB e aloca no
PSB do candidato Eduardo Campos... O que percebo disso tudo é um
tremendo desencontro. A estrutura partidária do governador apoiará
quantos candidatos a presidente?
Postado por Francisco Portela e Edil Aranha
Fonte: (Diário do Pará)
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